segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Me acertem um tiro na cabeça.

Me acertem um tiro na cabeça, por favor.
E acabem com esse tédio.
Uma carcaça morta pesadamente segurando meus pés. Me impede.
Me acertem um tiro em minha mente, por favor.
Já nem sinto mais o perfume do jardim.
Nem o sol entrando na janela do quarto.
Morra tédio, morra.
A noite está quente, mas as ruas são feitas de matéria negra e de solidão.
Chovem rostos desformes, e o caos toma conta do coletivo de bois no matadouro.
Próximos de serem fatiados e virarem embalagens.
Um motim de violência e revolta inexplicável, mas sincera.
Explodam as casas daquela avenida morta.
Pisotearam, esmagaram, massacraram, gritaram.
Mas o tédio continua ali, inerte, no alto da montanha, rindo de sua onipotência..
E acertaram um tiro em minha cabeça.
E voou restos de miolos podres, já corroídos pelo tédio.
E o sangue preguiçoso que demoro pra começar a escorrer. Porque era acomodado em seu leito lerdo de fluxo.
E aquele vício, aquele ar putrefato, irrespirável, um bafo quente e pesado que me envolvia repentiamente me abraçou, sufocando-me.
Sentia nojo.
Mas não conseguia me soltar.
E eu estava deseperado, com um grito gigantesco preso na garganta.
Mas não conseguia me libertar.
E eu fui assim, me minimizando, até virar uma engrenagem do motor, um boi no abatedor.
E minha cabeça explodida e sangrando pesava.
E o tédio contiuava alí, em cima, poderoso, ainda mais forte, mais poderoso, rindo e se deliciando da minha miséria.
Desgraçado. Morra.

Um comentário:

Jota disse...

aposto 10 conto que o curito que postou isso !!!