quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

David Bowie - Diamond Dogs (1974)

Durante sua extensa carreira artística, Bowie se tornou conhecido pela grande variedade de estilos pelos quais navegou, prática que lhe rendeu o apelido de "Camaleão do Rock". No entanto, podemos dizer que ele é um camaleão em sua própria existência. Ele é o que faz. Durante todas as transições pelas quais sua carreira passou, não é difícil apontar que o próprio músico sofreu várias metamorfoses.

Bowie surge como jovem talento com Space Oddity para cerca de 2 anos depois criar junto ao nascimento de uma das personalidades mais marcantes da música pop, o marciano Ziggy Stardust, aquilo que seria chamado Glam Rock. Ao se desvirtuar da imagem de Ziggy Stardust, Bowie ainda faria grandes peregrinações pela Dance Music, Pop Music e muitas outras obras, cada uma aparentemente distoante da última.

Por ser um artista de obra tão extensa, não é difícil apontar os muitos méritos de David Bowie. Poderia dedicar esse espaço a muitas de suas maravilhas musicais, como Space Oddity, Alladin Sane, Hunky Dory (Clássico imperdível), Rise and Fall Of Ziggy Stardust, entre muitos outros. No entanto, vou dedicá-lo apenas a um de seus álbuns conceituais: Diamond Dogs.

O álbum Diamond Dogs é um divisor de águas na carreira de Bowie. Se em Space Oddity (seu primeiro álbum) Bowie começava a aplanar o terreno para aquilo que seria o Glam Rock, a partir de Diamond Dogs ele começa a se afastar do estilo. Seria impossível Bowie apagar o que ele havia feito e também ainda era pra ele muito difícil se desapegar de suas obras anteriores, mas tudo insinua que ele queria experimentar coisas novas.

A escolha do tema para sua obra conceitual, no entanto, não é nada sutil. Como se ele mesmo procurasse escancarar para o mundo que agora optara por mudar seus rumos, Bowie faz uma obra baseada no livro de temática pós-apocalíptica de George Orwell: 1984 (como fica claro nas canções We Are The Dead, Big Brother e, é claro, 1984). Reza a lenda que o artista planejava até mesmo fazer uma adaptação cinematográfica do livro, mas não obteve a licença sobre os direitos autorais de Orwell.

Tecnicamente, Diamond Dogs é uma compilação de todas as influências musicais da época. David Bowie passa a flertar então com o progressivo, o Hard Rock, o Soul e até com um pouco de Disco, jogando violentamente tudo em sua panela de pressão e misturando àquilo que ele próprio já havia produzido anteriormente. Em uma abordagem mais radical, pode-se dizer que Diamond Dogs foi a contribuição de Bowie para o que viria a ser o Punk alguns anos depois, afinal, nada mais apropriado para tratar de um tema pós-apocalíptico do que anarquia musical, e é exatamente disso que Diamond Dogs se trata.


capa pintada por Guy Peellaert



1- Future Legend (1:01)
2- Diamond Dogs (6:04)
3- Sweet Thing (3:39)
4- Candidate (2:40)
5- Sweet Thing Reprise (2:32)
6- Rebel Rebel (4:33)
7- Rock'n Roll With Me (4:02)
8- We Are The Dead (4:59)
9- 1984 (3:27)
10-Big Brother (3:20)
11-Chant Of The Ever Circling Skeletal Family (2:08)

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postado por Caio

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

The Clash - London Calling



The Clash surgiu nos anos 70 na Inglaterra e era composto pelo já falecido Joe Strummer, vocais e guitarras; Mick Jones, guitarra e eventualmente outro instrumento, Paul Simonon, baixo e Topper Headon, bateria. Originalmente uma banda punk fortemente influenciada pela cena vigente na época, o The Clash com o tempo construiu uma carreira musical que se distanciou muito do estilo "punk puro", estilo no qual predomina três acordes tocados o mais rápido possível. O álbum London Calling foi terceiro álbum do grupo e foi o primeiro a abraçar diversas influências musicais, fazendo com que o rótulo até então usado fosse sempre questionado e repensado. O grupo flertou com os mais diversos estilos, dentre os quais o Ska/Reggae, rockabillty, hard rock e Jazz, alcançando uma complexidade musical bem diferente das bandas ditas punks da época.
Na verdade, que fez com que a alcunha punk fosse aplicada à banda, além do fato de que primordialmente a banda possuía um som menos sofisticado e mais "porrada", estilo este que se repetiu em várias canções durante a sua carreira, foi a atitude dos membros. Não me refiro àquela atitude "escrota" das bandas punks atuais, em que tocar pelado e zoar a MTV é grande feito, e nem ao apelo doutrinário que outras bandas atuais possuem, no qual a tênue linha do panfletário idiota e crítica é facilmente extrapolado. As canções possuíam um direcionamento político voltado para a esquerda e há diversas letras em que isso é subentendido ou até mesmo explicitado, mas não há um apelo vago de " vamos derrubar o sistema e implantar a revolução socialista armada". Há sim um foco em diversas situações, como a derrocada do poder tirano, o alerta ao fascismo europeu ( alerta atualmente vermelho, visto o intenso crescimento da extrema direita na europa), a crítica à paranóia, à sociedade de consumo, ao armamentismo, à aristocracia e velhos costumes ingleses, ao tédio do interior inglês, ao mercado musical, a discrimação aos imigrantes negros ( a convivência com os jamaicanos enriqueceram a música do the clash, com fortes influências do ska), ao trabalho alienativo e à falta de perspectiva desse. Enfim, uma banda que se mantém extremamente atual mesmo 33 anos após debutar e que se manteve coesa com seus princípios sem apelar à doutrinação barata (algo que refuto veemente), mas sim com letras realmente bem feitas e inteligentes, incitando ao questionamento e ao inconformismo e mostrando que os integrantes possuíam interesse e conhecimento à respeito das diversas facetas culturais do mundo, bem como os conflitos mundiais.
É notável também a capacidade de recriação de tipos e de estilos nas músicas, além de letras com conteúdo narrativos interessantes. O próprio visual da banda remete ao vintage dos anos 50. Quem ouviu "Jimmy Jazz" entede o que falo, caso contrário, convido-lhe a baixar o disco e tirar suas conclusões. Um belo disco.
London Calling remete à segunda guerra mundial e o chamado para os cidadões ao combate, em um clima apocalíptico nuclear, e possui um fundo musical marcante, embebido em punk.
Brand New Cadillac é rockabilly com uma letra engraçada, ambígua e irônica, mesmo que simples - a garota que consegui um cadillac novo já não reconhece ninguém a bordo de sua possante máquina ( qualquer semelhança com Serge Gainsbourg é mera coincidência). Jimmy Jazz é uma canção com levada jazz interessantíssima e uma letra narrativa bem feita com a construção do "tipo" malandro, o referido Jimmy Jazz, que a polícia procura mas que ninguém pode falar sob a condição de sofrer consequências. Rudie can't fail é ska puro, e como tal, fala sobre o movimento Rude Boy inglês dos anos 60 e o comportamento Rude, sem as preocupações adultas, com as conseqüentes vozes de crítica da sociedade. A antológica Spanish Bombs é muito bonita e discorre sobre a guerra espanhola com fidelidade aos fatos históricos, embora o refrão não faça muito sentido cantado em castellano. The Right Profile é uma canção sobre Montgomery Clift, o famoso ator. Lost in the Supermarket é uma bela balada sobre o vazio do consumismo. A memorável The Guns Of Brixton fala sobre o violento bairro jamaicano que o baixista morava ( ele que assume o vocal na música), Brixton, permeado por conflitos entre a opressora polícia e os trabalhadores estrangeiros, e daí toda a sua sonoridade rap/dub/ reggae legal, BEM LEGAL.
Death Or Glory e Lover's Rock é puro hard rock, enquanto The Card Cheat é sobre um homem que distrai a solidão afundando-se em jogos e bebidas, Wrong 'em Boyo tem pano de fundo Ska, enquanto Koka Kola é uma " brincadeira" com Coca Cola e cocaína. Train in Vain tem um apelo meio pop mas é bem legal, embora curiosamente não foi adicionada no encarte do disco. Revolution Rock parece The Police, com mistura de rock, Ska e Reggae.
Não há uma música desse disco que seja facilmente discartada, a grande amplitude de temas músicais e de letras, aliadas à criatividade do grupo para fazê-las tornou esse disco antológico, quebrando as barreiras do Punk.
Ah, e a capa é uma referência á Elvis Presley.



postado por: Ricardo.



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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Morphine - Good.


Estamos encarcerado, cercados por jaulas que nos forçam a sentarmos confortavelmente na frente da televisão e não questionarmos a ordem de como acontecem as coisas no século XXI:
primeiramente morremos, então nascemos para permanecermos mortos. Quando, com sorte, alguns poucos conseguem se esgueirar entre os concretos frios, livrando-se dos grilhões atemporais e respirar pela brecha o vento fresco e a vida pulsante, eles são devidamente descartados e deixados em quarentena até que possam submeterem-se docilmente ao mundo.
A dor, a dúvida, a angústia da solidão e tédio consomem as entranhas de irriquietas almas que não conseguem submeterem-se passivamente ao leilão de pequenos sonhos mesquinhos nas vitrines. A casa com dois carros na garagem e home teather não parece ser nenhum pouco sedutora, muito pelo contrário, causa repulsa imediata.
O prazer da vivência fora à muito esquecida, é bem verdade. Preza-se o amanhã, sempre o amanhã, nunca o hoje. É aquele que abdica do hoje, sacrificando as preciosas horas, o pôr do sol e a lua cintilante, disciplinando sua natureza tal como espartano soldado do futuro, que vai conseguir alcançar o sucesso. Sucesso é, antes de mais nada, sinônimo de permanecer morto, definhando em dor e desperdiçando nossa tão frágil e efêmera existência.
É preciso se livrar da dor, e para tanto, há dois caminhos possíveis :
Há o shopping, onde se ruma para o inexorável vazio existencial, e há a morfina, droga esta que alivia as dores do soldado amputado, do enfermo em seu derradeiro suspiro e a do desajustado.
O desajustado é justamente aquele que ousa respirar, que se recusa a ir ao shopping no fim de semana e encarar a horda de mortos vivos no morticínio insanguinolento; é aquele que se desespera em caminhar silenciosamente para o fim, mas que tampouco consegue encontrar o alívio para a dor da (in)existência nesse mundo caótico, desesperado, solitário e entendiante.
É em busca desse alívo que se escolhe a Morphine:
Sax, bateria, baixo, poesia e vividez. O som minimalista. Lisérgico, libidinoso. Sensual, embriagante. Instrospectivo, arrebatador, delirante, hipnótico e poético. É muito mais do que o alívio para o sofrimento e a angústia: é a cura, é a celebração de vida, da paixão e do prazer.

É um convite à noite úmida.

GOOD:

01. Good
02. The Saddest Song
03. Claire
04. Have a Lucky Day
05. You Speak My Language
06. You Look Like Rain
07. Do Not Go Quietly Unto Your Grave
08. Lisa
09. The Only One
10. Test-Tube Baby/Shoot'm Down
11. The Other Side
12. I Know You (Part I)
13. I Know You (Part II)


Cure For Pain
01. Dawna
02. Buena
03. I'm Free Now
04. All Wrong
05. Candy
06. A Head with Wings
07. In Spite of Me
08. Thursday
09. Cure for Pain
10. Mary Won't You Call My Name?
11. Let's Take a Trip Together
12. Sheila
13. Miles Davis' Funeral


YES
01. Honey White
02. Scratch
03. Radar
04. Whisper
05. Yes
06. All Your Way
07. Super Sex
08. I Had My Chance
09. The Jury
10. Sharks Patrol These Waters
11. Free Love
12. Gone For Good


Like Swimming:
01. Lilah
02. Potion
03. I Know You, Pt. 3
04. Early to Bed
05. Wishing Well
06. Like Swimming
07. Murder for the Money
08. French Fries With Pepper
09. Empty Box
10. Eleven O'Clock
11. Hanging on a Curtain
12. Swing It Low


THE NIGHT

01. The Night
02. So Many Ways
03. Souvenir
04. Top Floor, Bottom Buzzer
05. Like a Mirror
06. A Good Woman Is Hard to Find
07. Rope on Fire
08. I'm Yours, You're Mine
09. The Way We Met
10. Slow Numbers
11. Take Me With You

Singelamente postado por:
Ricardo.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra - Unza Unza time (1999)

Para os cinéfilos de plantão, o sérvio Emir Kusturica já é provavelmente figura conhecida. Famoso por filmes como Underground e A Vida é um milagre, o diretor é referência mundiall no cinema. Menos conhecido, no entanto, é seu trabalho com o grupo "The No Smoking Orchestra" (uma ironia, já que todos os membros da banda fumam compulsivamente), tema inclusive de um documentário de direção do próprio Kusturica: "Memórias em Super 8" que eu ainda estou por assistir.

Infelizmente, as esparsas informações que posso disponibilizar aqui se limitam mesmo ao trabalho do grupo. Como todo bom músico cigano (como se existisse algum músico cigano ruim) Kusturica e seus companheiros bebem diretamente na fonte de Django Reinhardt, além de claras influências da música Klezmer, com quem a música cigana sempre caminhou lado a lado. Em meio a fumaça de cigarro e de pólvora, o grupo também assume uma decidida posição punk-rock, não apenas musical como também comportamental e crítica, bem evidente nas canções. Já na canção de abertura, "Unza Unza Time", isso fica bem latente, já que em uma frase conseguiram resumir toda a ideologia musical que a mídia tanto valoriza na atualidade: All music turned into a fashion show.

1 - Unza Unza Time (4:42)
2- DJindi RinDJi Bubamara (5:01)
3- Lubenica (5:51)
4- Prnavor (3:37)
5- Pitbull Terrier (4:05)
6- Was Romeo Really A Jerk (4:11)
7- Drang Nach Osten (4:48)
8- Corfu (2:35)
9- Upside Down (4:10)
10-Sanela (5:39)
11-Devil In The Business Class (3:45)
12-Grüss Gott Trauer (4:05)
13-Emir's Dream (0:42)
14-Imam Sam Bjelog Konja (4:40)
15-Some Other Man (1:48)
16-Furja DJildje (4:14)

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postado por Caio

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

The Dave Brubeck Quartet




Assim como muitas músicas que aprecio, conheci o Dave Brubeck Quartet através do meu pai, com a faixa “Take Five”, talvez uma de suas músicas mais famosas e com a qual, convenhamos, é impossível não ficar hipnotizado ao ouvir. O quarteto foi formado em 1951, em São Francisco, EUA, por Dave Brubeck (piano), Paul Desmond (saxofone), Joe Morello (bateria) e Eugene Wright (contrabaixo).

É interessante dizer que Brubeck não sabia ler partitura. Ele dispensava todo e qualquer método ou regra, querendo apenas compor suas músicas livremente.

O álbum que escolhi para postar aqui, “Time Out”, de 1959, quase não foi lançado. Chegou às lojas contra a vontade da maioria dos executivos da gravadora, Columbia Records. Sobre esse episódio, Dave Brubeck diz: “Quebrei três leis da Columbia. Todas as sete faixas eram composições originais, quando a gravadora gostava de entremear com standards. Queria também músicas que fizessem as pessoas dançar e eu lhes dei todos aqueles compassos esquisitos. Botaram um pintura na capa do LP, coisa que nunca se fazia com um disco de jazz. Obviamente, a companhia não queria lançar o álbum”. Apesar de tudo isso, em 1961, “Time Out” se tornaria o primeiro disco de jazz a atingir a marca de um milhão de cópias vendidas. O quarteto gravaria outros álbuns, dentro do mesmo estilo, como Time Further Out (1961), Time in Outer Space e Time Changes. Infelizmente, o quarteto de Dave Brubeck acabaria em 1967, embora tenham feito uma reunião em 1976, para comemorar seu 25º aniversário.


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postado por Débora Ferrari

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Grand Funk Railroad - Survival




Esta noite começou com um comentário do meu amigo Caio, que não sei o porquê, era um comentário que eu iria fazer com ele. Survival é um dos melhores álbuns de música já feitos no planeta terra. E nós estávamos ouvindo ele, cada um em seu recinto, admirando esse petardo músical.

Bom, Grand Funk Railroad é uma banda norte-americana de hard rock com forte pegada blues mas que sempre flertou, durante sua carreira, com diversos outros estilos musicais, dentre os quais posso citar o jazz, funk, gospel, e folk. Um gigantesco caldeirão de influências que brotou na época de ouro do rock'n roll mundial, isto é, em pleno início dos anos 70.

Formado incialmente por Mark Farmer ( teclados, guitarras e vocais princiapais), Mel Schacher (baixo), e Don Brewer ( baixo e vocais princiapais também) em 1968 na cidade de Flint, o nome da banda deriva de Grand Trunk Western Railroad, uma conhecida linha de trilhos de trem que opera por todo os EUA, bem como em Michigan, estado natal da banda.

A banda, que outrora já foi a mais quente do cenário musical da época, faz um som realmente impressionante, ainda mais se lembrarmos que há apenas três integrantes. Ao mesmo tempo em que ela soa pesada, inovadora e diversas vezes agressiva, não há perca da consistência, da harmonia, coerência e qualidade. Survival, lançado em 1971, foi considerado pela própria banda, como está registrado nos créditos, o primeiro álbum de estúdio da banda. Não que eles nunca haviam lançado discos de estúdio, mas é que esse foi o primeiro álbum em que se concentraram durante um tempo, mais precisamente dois meses, após o término de uma tourné na Inglaterra, com foco unicamente nesse projeto. Ainda, como o estúdio em que eles gravavam mudara de lugar, foi necessário anteriormente à gravação um imenso trabalho de recriação do ambiente e som, ambos infimamente interrelacionados. E o resultado é fenomenal, um tanto quanto mais sofisticado que os álbuns anteriores, mas mesmo assim sem perder a "pegada", o "punch" da banda.

encarte interno de Survival


Os membros da banda sempre diziam que há um lado espiritual, algo com uma energia que se incorpora junto aos integrantes enquanto tocam e tornam o som tão especial. Resultado disso são diversas lendas e até mesmo anedotas engraçadas, como o fato de ter nascido uma criança durante um show da banda, cujo batismo foi Grand Funk Railroad.
O grupo muitas vezes foi e é malhado pela crítica; aliás, isto ainda é constante: podemos ver que Survival é classificado com 2 estrelas pela Rolling Stones e três estrelas pela All-Music. Lamentável, não irei argumentar arrogantemente dizendo que não manjam nada de música, mas o fato é que esse disco é absolutamente incrível. Obviamente havia jogos de interesse e poder por de trás disso tudo, como observou o então empresário da banda, Terry Knight.
Também podemos ver que não é uma banda muito conhecida nos dias de hoje, de alguma maneira ela adentrou o ostracismo, o que é uma lástima.

Bom, o álbum, além de possuir uma arte gráfica interessante, com os membros todos vestidos de homens das cavernas, está recheado de imagens muito bacanas de flyers e concertos. Quando ele foi remasterizado, foi adicionado as faixas orginais de três músicas, que são Country Road, All you've got is money e Feelin' allright. Gosto de pensar que ESTE é o álbum original, pois as músicas são mais compridas e bem mais " viajadas", com mudanças de andamentos e temas que beiram o progressivo.

A faixa número 1 é Country Road, bela canção com tema um tanto quanto folk/country cuja letra refere-se ao retorno à simplicidade e felicidade da vida no campo, tão diferente da vida conturbada e violenta da cidade, cheia de obrigações. Na versão estendida, há um interlúdio com mudança de andamento e tema, com um fundo tocado no orgão, de maneira que a música rallenta para o grande solo de guitarra feito por Farmer, além da adição de uma estrofe a mais na letra. Logo após, começa a quebradera funk All you've got is money, cuja versão sem cortes possui já na introdução um riff com wah wah e na segunda parte após o refrão um solo viajadaço de harmônica. Essa pessoalmente é minha música favorita, com paradas sensacionais, groove fodido, refrão fodido, e letra incrível ( aspecto que esqueci de dizer: as letras da banda são ótimas, contestadoras, pacifistas , ambientalistas e questionando sempre os valores da sociedade da época, observando perplexamente como nos autodestruímos pelo trabalho ou dinheiro ). Ouça o que o baterista faz nessa música, é pavoroso, bem como o interlúdio repleto de exclamações e gritos entre o solo de guitarra e o final, que é pura quebração, onde novamente Farmer e Don mostram-se inspiradíssimos.

Confort me é uma música fenomenal, que começa com um riff tranquilo, leve, confortador e quente, e que possui um incrível poder de curar o ânimo após um dia de contrariedades. De fato, eles conseguem expressar isso na música. A seguir, um cover de Joe Cocker, Feelin' Alright, também repleta de boa energia. A quinta música, I want freedom, tem uma introdução bastante bacana no orgão, e curiosamente, a banda gravou as discussões dos membros de como a música devia soar e as deixou no início da gravação, podendo assim ser possível identificar o que estão falando. Ela possui um forte tema gospel com o apoio do orgão, o que a embeleza muito.

I can feel him in the morning fala sobre Deus, guerra, novo mundo e suicídio, e nela há um começo com crianças falando sobre Deus. Ela começa lentamente, com Don cantando e a guitarra acompanhando, para depois iniciar um coro novamente bem influenciado pelo Gospel, quando subitamente ocorre um interlúdio de orgãos que beira o progressivo, para então retomar o ciclo da música. De fato, incrível, como a própria banda reconheceu ser essa música e seu arranjo.

O álbum finaliza com um cover pesadíssimo de Rolling Stones, Gimme Shelter, dotada de um clima sombrio e agressivo. Chega a ser irônico, uma banda que na época superou o Rolling Stones em audiência, público e fama, gravar um cover justamente deles. Para o álbum remasterizado, foram adicionados I can't get along with society e Jam, além das três já mencionadas.

Baixe o álbum e se delicie com o que há de melhor na música.




DOWNLOAD 1 - cd original

DOWNLOAD 2 - álbum remasterizado


1 - Country Road
2- All You've Got Is Money
3-Confort Me
4-Feelin' Alright
5- I want freedom
6- I can Feel Him In The Morning
7- Gimme Shelter

bonus track ( só para 2)
8 - i can't get along with society
9-Jam ( footstompin' Music)
10 - Country Road ( original)
11- All you've got is money(original)
12- Feelin' Alright ( original)

Postado por: Ricardo.

sábado, 28 de agosto de 2010

Herbie Hancock - Mr. Hands (1980)

Se para nós soa apenas natural apelidar Bowie como o Camaleão do Rock, chega a ser estranho o mesmo não ser feito com Herbie Hancock para o Jazz. Não bastasse ser um dos pioneiros do Fusion na década de 70 com a gravação do impressionante Headhunters, Herbie Hancock ainda explorou exaustivamente todos os recursos do Funk, Acid Jazz e, principalmente, do Jazz.

Para representar toda essa metamorfose que é Herbie Hancock, "Mr Hands." é praticamente uma caricatura do artista, talvez pelo fato de conseguir compilar muitos dos estilos por ele adotados em somente uma obra.

Enquanto Spiraling Prism sugere toda a virtuosidade que o fazia pender para o Fusion, Calypso alterna para sua face mais ligada ao Jazz, ainda que com um pegajoso refrão aos ritmos caribenhos, como dá a entender o nome da composição. Já Just Around The Corner passa para todo o funk e groove com que Herbie Hancock se fez famoso. "4 AM", a faixa que se segue, conta ainda com a participação de um dos grandes ícones do Fusion: Jaco Pastorius, já em decadência psicológica, mas ainda um excelente músico. "Shiftless Shuffle" é mais um trabalho de Herbie Hancock com os Headhunters (o mesmo quinteto que trabalhou com ele no disco homônimo). O álbum fecha brilhantemente com "Textures", faixa gravada inteiramente por sintetizadores comandados pelas mãos de Herbie Hancock.

1- Spiraling Prism (6:26)
2- Calypso (6:45)
3- Just Around The Corner (7:35)
4- 4 AM (5:24)
5- Shiftless Shuffle (7:11)
6- Textures (6:40)

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postado por Caio

domingo, 22 de agosto de 2010

Big Bill Broonzy




Big Bill Broonzy foi um dos primeiros artistas de Blues a popularizarem o estilo musical e a formatá-lo. Nascido ainda no século 19, descendentes de escravos, no interior dos Estados Unidos em Mississipi, Big Bill Broonzy é "velharia " mesmo, raízes do blues, da época em que se cantava spirituals ( pré-blues) nas lavouras rurais, portanto sendo um pedaço da história da música.
O estilo de Broonzy é bem variado, de forma que o longo período em atividade ( 1920 até meados de 1950) fez com que ele presenciasse diversas alterações na tecnologia musical. A princípio, Broonzy era um guitarrista acústico solo, o que caracterizava sua música com a sonoridade folk-country-blues bem típica do interior dos Estados Unidos. Com o decorrer do tempo, aderiu a formação clássica de baixo, bateria e guitarra, para mais tarde, no final de sua vida, retornar à guitarra acústica solo.
Devido à sua vida repleta de migrações e dificuldades por ser negro, enfrentando o racismo violento vigente na época ( que acabou mesmo?) , sua música é permeada por letras que refletem a dificuldade da vida urbana ( caracterizando o Chicago Blues) bem como a nostalgia da vida rural ( caracterizando o mississipi Blues) e a fusão/ convívio de ambos os estilos. Ainda, como seus pais nasceram no interior no final da escravidão, Broonzy sempre teve uma consciência política bem forte, como podemos notar nesse seguinte vídeo:



" Black, Brown and White"
http://www.youtube.com/watch?v=k0c1c0ZsTLA





Como cantor e acima de tudo instrumentista de Spirituals, Blues country, blues urbano e blues rural, o legado deixado por Big Bill Broonzy ao instrumento é grande, pois além de ter muitas influências de outros artistas, possuía uma maneira muito autêntica de tocar e que influenciou DEMAIS Eric Clapton ( personagem ilustre do post aí de baixo) entre outros.

Foi nos anos 50, quando retornou ao estilo de raiz, e com o avanço da qualidade de gravações que Broonzy gravou na posteridade pérolas do blues.



Posto aqui alguns links de outros blogs que tem álbuns de Big Bill Broonzy:
link 1

Cream - Wheels Of Fire (1968)

O Cream talvez seja uma das bandas mais expressivas da década de 60. O grupo consistia de praticamente um "Dream Team" da época, com o power trio formado por nada menos que Eric Clapton, Ginger Baker e Jack Bruce.
Como tudo que é bom dura pouco, não tardou muito para Baker brigar com Bruce, Bruce brigar com Clapton, Bruce brigar com ele mesmo e, enfim, a banda deixar de existir. Após os conflitos, Jack Bruce partiu em carreira solo, Clapton iniciou sua caminhada pelo Blues e Baker ficou a vagar pelas escuras e úmidas ruas londrinas em busca de inspiração Jazzística. Baker e Clapton ainda formariam mais tarde o Blind Faith, mas que também teve curta duração.

De qualquer modo, é inegável a importância do Cream no contexto musical de então. Quando se fala em Cream, imediatamente se lembra da capa psicodélica de Disraeli Gears. Pouco depois, nos sentimos extasiados ao som de Sunshine of Your Love ou mesmo Strange Brew. Então, recuperando a consciência nos lembramos... Disraeli Gears não é bom... é MUITO BOM! No entanto, pelo fato de Disraeli Gears ser tão bom, algumas vezes acaba por ofuscar os outros dois grandes álbuns da banda: Fresh Cream e Wheels of Fire que também são MUUUUITO BONS! Daí se conclui porque o Cream é o que é, foi o que foi, como queira, ainda assim é eterno.

Wheels Of Fire se destaca bastante dos demais por conta do experimentalismo. Enquanto temos canções que refletem bastante o que o grupo tinha criado até então, tais como a canção de abertura "White Room", além de "Politician" e "Born Under a Bad Sign", existem também quebras interessantes como "As You Said" e "Pressed Rat and Warthog". Na verdade, para mim a canção mais interessante do disco é justamente essa última. Narrada e, de certo modo, "fabulada" por Ginger Baker, a música assume certo tom fúnebre, acompanhada por o que parecem ser trombetas de guerra e ritmos de marcha, quase como que, ao mesmo tempo um luto à falência dos negócios das duas personagens, assim como um protesto à corrupção das duas (Uma livre interpretação minha, sintam-se livres para criar as suas próprias).

Wheels Of Fire é imperdível. Disraeli Gears é imperdível. Fresh Cream é imperdível. Cream é mesmo fantástico.

Hoje fica por aqui o Wheels Of Fire

Adieu.

CD 1

1- White Room (5:00)
2- Sitting On Top Of The World (5:00)
3- Passing The Time (4:34)
4- As You Said (4:23)
5- Pressed Rat And Warthog (3:16)
6- Politician (4:14)
7- Those Were The Days (2:56)
8- Born Under A Bad Sign (3:12)
9- Deserted Cities Of The Heart (3:38)

CD 2

1- Crossroads [Live] (4:21)
2- Spoonful [Live] (16:49)
3- Traintime [Live] (7:04)
4- Toad [Live] (16:16)

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postado por Caio

Little Walter

Boa noite a todos os leitores do Blog.

Após um longo período sem postar, espero reunir forças e motivações o suficientes para que freqüentemente possa servir-lhes com um bocado de boa música. Devo dizer que é um pouco frustrante, após três anos de Blog, desfrutar de uma certa falta de resultados, no âmbito de ainda possuirmos poucos seguidores e comentários. Por isso peço gentilmente a vocês leitores que comentem, pois o único motivo pelo qual escrevemos é compartilhar nossos gostos em relação à artes, de tal forma que o comentário, por mais singelo que seja, nos fornece motivação para que continuemos a escrever, uma vez que nosso esforço de ouvir, escrever e analisar o elemento em questão é mais do que bem recompensado ao notarmos que há reconhecimento, em outras palavras que não estamos escrevendo ao léu, para leitores fantasmas.
Agradeço a quem nos segue e a quem baixa os cds aqui postados, de maneira alguma quero ignorar nossos seguidores e os comentários aqui feitos. Ainda, é visível um certo desânimo de minha parte em escrever novos textos, mas como lhes disse anteriormente, parte disso se deve a sensação de ausência de reconhecimento.

Bom, ao que interessa, vos apresento uma pérola do Blues: Little Walter.





Little Walter, nascido Marion Walter Jacobs em primeiro de maio de 1930 na cidade de Marksville, Lousiana, foi um dos maiores gaitistas que já pisaram nesse planeta. Criado na zona rural de Alexandria, Little Walter cedo abandonou a escola para trabalhar e conseqüentemente muito jovem chegou à Chicago, a idade de 15 anos, sendo portanto um dos membros do que se denomina "Chicago Blues" ou blues urbano, composto por músicos negros que abandonaram a zona rural e partiram para a cidade grande em busca de melhores condições de vida. Isto sempre foi uma constante em sua música, no sentido da solidão da vida urbana, bem como na música feita pelos bluesman que se encontravam em semelhante situação.Embora sua música possuia raízes nesse estilo, suas intepretações possuiam certo sofisticamento que o diferenciava de outros músicos e foram o motivo de seu tremendo sucesso. Dificilmente se vê em Little Walter composições referentes à saudade da terra natal e temas rurais , mas podemos dizer que a solidão da vida urbana, bem como a dificuldade da vida urbana são temas muito comuns em suas letras, como esse trecho de Mean Old World:
"
This is a mean old world,
tryin' to live in by yourself
This is a mean old world,
tryin' to live in by yourself
Can't get the one you're lovin',
have to use somebody else
"

Walter acompanhou diversas lendas da música norte americana negra, tais como Muddy Waters,Willie Dixon, Hound Dog Taylor e Floyd Ross, e desde muito cedo foi influenciado por músicos também não menos que lendários, como Sonny Boy Willianson II. Walter foi um dos pioneiros no uso de amplificadores para a harmonica, uma vez que quando o blues se eletrificou na época, era impossível de a gaita soar com o som da guitarra, baixo e bateria em volumes muito maiores. Assim, várias técnicas da harmônica foram originalmente criadas ou largamente difundidas por ele, como o uso de "drive" ( distorção) no som da gaita e creio eu, ao ouvir o disco,o reverb como certo elemento de ambientação para o instrumento.

" I'm gonna roam this old Highway, until the day i die"

O fraseado bluesísitico de Walter também é impressionante, de modo que ele é considerado um virtuoso do instrumento tamanha a capacidade técnica e feeling que possuía. Walter também cantava, mas seu grande legado foi o vocabulário musical por ele criado. Certas músicas e certas frases possuem um certo quê de Jazz ( pelo menos para mim hehe =D, cabe a vocês decidirem) Certas vezes ele é comparado com Hendrix e Charlie Parker em relação à revolução que foi na época e para a música moderna, bem como Jimi e "The Bird" foram em seus instrumentos e épocas. Ele por duas vezes fez tournes na Europa.
Walter morreu com 37 anos por causa natural, embora diga-se que sofreu complicações após uma briga de bar.


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senha:360grauss.blogspot.com

Crédito : http://360grauss-mp3.blogspot.com/


Postado Por: Ricardo Franco

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Os Mutantes - Jardim Elétrico (1971)

Já era hora de um novo post. Não só isso, um post dos Mutantes também. Na verdade, não sou um perito na banda, mas sempre apreciei muito o trabalho deste grupo de São Paulo, formado pelos dois irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, além de Rita Lee. Um dos motivos pelos quais a banda parece ser única se deve talvez ao fato dela seguir um rumo paralelo às demais bandas nacionais de então. Não que o Mutantes faça algo de inovador. Longe disso, parecia querer seguir as grandes influências da época: Beatles, Rolling Stones, a psicodelia das bandas de São Francisco, ou seja, tudo aquilo que havia se consolidado na Contracultura Norte-Americana, enquanto as demais bandas brasileiras pareciam simpatizar mais com os Tropicalistas. Apesar de participarem ativamente do movimento Tropicalista, para mim, Os Mutantes tinham uma sonoridade bem diferente.

Talvez justamente por caminhar lado a lado com o rock internacional "Os Mutantes" seja mais conhecido lá fora do que aqui no Brasil. Isso acaba tornando, não impossível, mas um pouco difícil achar os discos da banda pelo país. Aqui muito da fama do grupo se deve à posterior repercussão da carreira solo de Rita Lee.

Tá certo que nosso paisínho não é nenhum paraíso para se adquirir CDs, até pelo fato de não deixarem de sobretaxar nem a cultura, mas chega a ser o cúmulo se tratando de um grupo nacional. Revoltas à parte, quando me deparei com o primeiro disco da banda (Os Mutantes - 1968) pairando nas estantes de alguma livraria, não pude deixar de adquirí-lo. Naquele momento, acreditava ter posto as mãos na maior pérola do grupo. Não à toa, já que o disco conta com algumas das composições mais famosas da banda, tais como "Panis et Circenses" e "Minha Menina"

Bem, isso já faz algum tempo, mas um dia desses, meu irmão me disse que conheceu um disco da banda que era muito superior ao primeiro. Fui meio cético quanto a isso, mas esses dias decidi provar o "Jardim Elétrico"... e agora simplesmente não consigo parar! O disco não dá brechas para se respirar, é simplesmente uma música deliciosa atrás da outra. Infelizmente, a duração do disco é curta, ou talvez até felizmente, assim se fica só cerca de meia hora sem respirar.

Compartilho, portanto, meu entusiasmo recente deste disco com vocês.

1 - Top Top (2:28)
2- Benvinda (2:48)
3- Tecnicolor (3:44)
4- El Justiciero (3:53)
5- It's Very Nice Pra Xuxu (4:49)
6- Portugal de Navio (2:44)
7- Virgínia (3:27)
8- Jardim Elétrico (3:14)
9- Lady, Lady (3:33)
10-Saravá (4:25)
11-Baby (3:37)

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postado por Caio

domingo, 25 de julho de 2010

Paulo Moura Sentimental

Normalmente eu pesquisaria algo com afinco sobre o artista em questão, mas não vim aqui falar sobre a obra dele, em especial. Sei que esse é só mais um no meio de tantos e que, de fato, não adiciona em nada na cultura de todos , mas noto que até hoje ainda não me despedi direito de Paulo Moura, que morreu há uns 10 dias ou coisa assim.

Minha mãe tinha um CD do Paulo Moura em um dueto com o violonista Raphael Rabello, chamado "Dois Irmãos". Lembro-me de ouvi-lo há uns bons 10, 11 anos atrás. Gostava bastante dele, apesar de pouco saber sobre música na época. Recordo também ter perguntado quem eram os músicos para ela e ter ficado um pouco sentido sabendo da morte de Raphael Rabello.
Bem, quando o clarinetista e saxofonista veio se apresentar na Unicamp, em 2008 se bem me recordo, não podia perder! Era num gramado amplo e para a infelicidade da maioria, estava bastante frio naquela noite. Então, sua apresentação com a Orquestra da Unicamp começou e... Foi um tanto broxante: as músicas eram bastante lentas e já era razoavelmente tarde, o que levou uma boa parcela a ir embora. Eu mesmo não durei muito tempo, porque tinha muita fome. De qualquer jeito, fiquei feliz de tê-lo visto pela primeira(e única) vez. Porém, de maneira alguma deixei de idolatrá-lo.

Poderia dizer "Que ele fique em nossos corações e que assim nunca morrerá", mas espero mesmo que ele fique em nossos Cd Players, tocadores de vinis, mp3 e o que vier. E que ele seja passado de geração em geração!

Vai, Paulo Moura, vai fazer festa com Sivuca e Pixinguinha onde quer que você esteja!

Postado por: Guilherme

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Tom Zé - O Pirulito da Ciência (2010)


A Virada Cultural Paulista promoveu interessantes oportunidades de se conhecer os trabalhos de alguns artistas. Confesso que o trabalho de Tom Zé me era estranho. O pouco que conhecia dele (beeem pouco), nunca chegou a me interessar muito. Quando fiquei sabendo que ele viria a se apresentar no SESC Bauru na Virada, meio cético, decidi tentar minha sorte.

E que sorte. Tive a oportunidade de conhecer mais a fundo um dos mais interessantes artistas brasileiros. Irreverente, carismático, seco e experimentalista, Tom Zé parecia saber guiar o público como poucos. Infelizmente, sempre existem algumas maçãs podres, principalmente em eventos gratuitos, que mais se contentam em atrapalhar do que ajudar e o show terminou em uma discussão apimentada entre o artista e alguns outros elementos da plateia. Emputecido e sentindo-se desrespeitado, Tom Zé deixou o palco prematuramente.

No entanto, com uma hora e pouco de show, pude conhecer seu mais recente trabalho. Tom Zé utilizou-se da Virada para promover um DVD denominado "O Pirulito da Ciência", gravado Ao Vivo. Muito interessante é o uso dos vocais no som de Tom Zé, utilizados como se fossem instrumentos extras de percussão.

Dadas as características experimentais e sarcásticas, aproximando-se a um humor ácido, hoje me soa extremamente sensata a comparação que ouvi há um tempo atrás em algum recanto cibernético: "Seria Tom Zé o Frank Zappa brasileiro?" Claro que é uma questão que não dá para se afirmar com extrema contundência, mas dado seu contexto tanto geográfico como cultural, acredito que ambos tenham se valido de premissas equivalentes: a de reinventar a música a sua maneira, o que é feito, no Pirulito da Ciência, com invejável precisão.

Para quem quiser também conferir o esporro de Tom Zé na Virada, no melhor estilo Hermeto, segue também o vídeo abaixo. Perdão pela baixa qualidade do áudio, não fui eu quem gravou.

"Tom Zé Se Irrita"

"Tom Zé perde a paciência em Bauru"
(qualidade de áudio melhor)



1 - Nave Maria (4:55)
2- Fliperama (4:28)
3- Ui! (você inventa) (5:07)
4- Companheiro Bush (3:05)
5- Classe Operária (3:19)
6- Ogodô (ano 2000) (6:11)
7- Hein? (3:27)
8- Menina Jesus (4:23)
9- Menina, Amanhã de Manhã (3:31)
10-Neto, Craque da Copa (8:21)
11-Meninas da USP e da GV (2:15)
12-Minha Carta (5:23)
13-Cademar (2:43)
14-Brigitte Bardot (3:08)
15-Augusta, Angélica e Consolação (4:37)
16-São, São Paulo, Meu Amor (4:06)
17-Tô (2:24)
18-Jingle do Disco (2:09)
19-Jimmy Renda-se Moeda Falsa (4:11)
20-João nos Tribunais - O Céu Desabou - Síncope Joãobim (8:19)
21-Defeitou 3: Politicar (4:36)
22-Faça Suas Orações (Antiga Gene) (8:05)
23-Todos Os Olhos (4:34)
24-Parque Industrial (4:39)

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postado por Caio

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Lee Morgan


De morte precoce, aos 33 anos (Jesus?), Lee Morgan foi conhecido por sua maneira excêntrica de ser e tocar seu trompete. Cara de pau, talvez em excesso, era capaz de retrucar a monstros do bebop na chance de conseguir mais atenção para si, como ocorrido quando convidado a uma jam session: ao ser questionado por um saxofonista famoso da década de 50 o que gostaria de tocar, disse “O que você quiser.”. Mal sabia que o saxofonista iria lhe ensinar uma bela lição, quando quis tocar um dos temas mais difíceis do Jazz, Cherokee, com andamento elevado e em si, um dos tons mais complicados de se levar uma música. Mal sabia o saxofonista que depois do incidente e do sumiço de Lee Morgan por alguns meses, ele iria tocar com Art Blakey and The Jazz Messengers, onde sua belíssima carreira começou a alavancar, até ser morto pela sua mulher. Maldita seja ela.
De qualquer modo, o que fizeram ou deixaram de fazer com ele não é da minha conta. O CD, sim, me interessa. Ele inicia com a faixa de maior sucesso do artista, “The Sidewinder” e possui 10 maravilhosos minutos do que seria, de certa forma, uma inserção de temas funkeados ao clássico bebop, tema frequente em Morgan. A quebra rítmica, ou síncope, aplicada pelo baterista Billy Higgins e a célula rítmica do baixista erigem a forma soul-jazz de ser. “Since I Feel for You” se trata de uma balada com pegada calma e leve, com temas bonitos no trompete, bastante diferente de “Speedball”, que é um dos melhores exemplos do hard bop desempenhado pelo trompetista. A quarta música lembra uma bossa nova. Com tema fluido, “Ceora” se faz um pouco diferente do estilo de Morgan, como ocorre com a última música, “I Remember Clifford”, um tema lento e fúnebre, clara homenagem ao também trompetista Clifford Brown. Por fim, a quinta música é caracterizada pela influência do funk, que se nota, nessa altura da conversa, ser ponto comum no artista.
Fazer tudo isso no final da década de 50 e começo da década de 60 é, minimamente, digno de ser escutado. Sua excentricidade aparece claramente naquilo que toca, no que deseja transmitir ao público. Apesar de também um tanto egocêntrico e até petulante, construiu parte da injeção do soul ao jazz purista.
A compilação que coloco aqui pode soar até mesmo destrutiva; como ser capaz de mitigar toda a obra de um jazzista a míseras seis músicas? E ainda mais se tratando de um “The Best of”, que só contém as mais conhecidas. Isso é válido? Sim, é válido. Em se tratando de Lee Morgan, quando falo dele, muitos dos que conheço e apreciam o jazz, costumam apresentar cara de dúvida. Aqui vai, então, meu empurrãozinho. Se quiser saber mais, então, que procure por ti, como pretendo fazer, porque a minha parte vai até aqui. Explore até onde gostar. Eu gosto mesmo é de me deitar na cama e relaxar ouvindo um desses mágicos instrumentistas. Ah, eu amo jazz!


Last FM



Postado por: Mim

sábado, 10 de abril de 2010

Double John "Fantasy "

Double John "Fantasy" - Prefácio de Paulo Leminski sobre Pergunte ao Pó.

*c
A ficção norte americano do século xx jamais ocupou lugar especial no meu coração.

Para meu paladar, afeito às sutilezas culinárias da frase de Flaubert e aos seus súbitos abismos da prosa de Joyce, ela sempre me pareceu comercial demais, vulgar demais, rasa, " mal escrita" demais.
Comercial, ela é mesmo. Literatura, nos Estados Unidos, é negócio para dar dinheiro grosso. E sonho de escritor americano é levar vida de estrela de Hollywood, casa na Califórnia, piscina cercada de starlets, festas de arromba todos os sábados.

Esta aproximação que faço da literatura americana não é muito fotuita: boa parte da ficção ianque deste século foi escrita, um olho no papel, um olho na Metro- Goldwin-Meyer.
O próprio Fante escreveu muitos roteiros para filmes.
Meca e oásis dos narradores, o cinema, arte de massas, massificou a literatura norte americana: boa história é história que emocione milhões, emoções de seis milhões de dólares. Para isso, precisa ser médio. Trabalhar com emoções médias. O cinema proclamou uma idade média.
Uma linguagem média.

Para atingir o sucesso, não se pode violar demais as leis do trânsito linguístico, sintático, formal: não se estupra impublicamente o quadro de expectativas de sua Majestade o Público consumidor, novo rei deste absolutismo estatístico.

Nisso a ficção norte americana do século xx se parece com a soviética.

A " mediocracia" norte americana é ditada por razões do mercado. A soviética, por injunções ideológicas e pedagógicas, sujeitas à contínua atenção e intervenção do Estado e seus aparatos policiais." Incompreensíveis às massas" foi a frase que matou Maiakovski, o maior poeta da Rússia comunista. Essa frase mataria qualquer escritor americano, também.

Vulgar demais, a ficção americana também me parecia.

Sempre achei tediosa perda de tempo acompanhar aqueles registros minuciosos de gestos cotidianos, insignificantes, irrelevantes, banais, em que se compraz a literatura
do país mais rico da terra: aquela tentativa de flagrar " a vida como ela é", as coisinhas do dia-a-dia, a mera passagem da vida para as palavras, isso sempre me pareceu menor.

Fanático por Borges e Cortazár, literatura, para mim, como a pintura, para Leonardo da Vinci, sempre foi 'una cosa mentale", arquitetura de idéias: nunca um clique-clique-clique
fotográfico das irrelevâncias em que consiste isso que se chama vida.

" Mal escrita demais". Educado nas matemáticas cadências da frase de Flaubert, herdeiro das redondices e redundância rítmica de Bousset, os curto-circuitos da frase norte americana, seus cortes abruptos, afins à fala, descartesianos, a escrita de ficcionistas americanos sempre me pareceu, menos que um erro, uma imperícia.

Com tudo isso, foi surpresa encarar a barra de passar, pela primeira vez, à língua de Machado e Eça, as perguntas que este desconhecido John Fante fez ao pó, em 1939.
Tudo o que eu sabia é que era o escritor favorito de Charles Bukowski. Hoje, sei muito mais.
Retrato do artista quando jovem e tolo o bastante para se julgar o melhor escritor do mundo, ASK THE DUST abre um movimento complexo no interior do seu processo. Afinal, é a história das desventuras de álguem querendo ser um grande escritor: um relato sobre o próprio escrever, desvelando seu fazimento. Ao escrever ASK THE DUST, esse alguém o consegue: é uma double fantasy, uma dúplice ficção, FANTE/BANDINI, BANDINI/FANTE.

" Desventuras de alguém querendo ser", eis o tema da chamada novela picaresca, conceito derivado da literatura espanhola, onde o gênio cristalizou e produziu obras- primas, na passagem do renascimeno para o barroco: Vida del Pícaro, Guzmán de Alfareche ( 1599), de Mateo Alemán; Libro de entretenimiento de la pícara justina {(1605) de Francisco Lopes de Úbeda, historia de la vida del Buscón ( 1626), de Francisco de Quevedo: Estebanillo González ( 1646), de Estebanillo González, El diablo cojuello( 1641) de Velez de Guevara, tudo tendo começado com esse El Lazarillo de Torme( 1544), a proto-picaresca, de autor ainda discutido ( Hurtado de Mendonza?).

Muito elegante a história ao borrar o nome do autor da primeira picaresca: o herói de todas elas, não importa o nome, é sempre o "pícaro", figura típica da Espanha da época ( e de todas as épocas). O pícaro é, antes de mais nada, um desclassificado, indivíduo fora dos quadros de um grupo social, lonesome rider, sujeito isolado, contando apenas com sua astúcia, falta de escrúpulos e os acasos da fortuna para continuar vivo.

Um pilantra, em suma. Um marginal, misto de cínico com estóico.

A palavra parece vir do verbo " picar", "bicar": pícaro é o "bicão", o que não foi convidado para a festa, o batedor de carteiras e oportunidades, o personagem de moral provisória, adaptável a todas as novas situações de uma vida de de grande mobilidade, geográfica ou social. É um errante, sempre em trânsito, santo aqui, miserável ali, ora por cima, ora por baixo, se virando mais que charuto em boca de bêbado, para manter a a cabeça acima da maré de merda, a vida de quem rompe com os quadros tradicionais do seu grupo social de origem.
A picaresca é uma novela de baixa articulação, constituída do fluxo de anedotas, percalços e peripécias, sem maior nexo estutural, o fluxo que caracteriza a vida pícara. No final, sempre uma, e só uma, conclusão-moral-da-história: a vida é assim mesmo, e malandro que é malandro não chia.

Pícaro, no brasil, é o malandro, e picaresca é a malandragem, a atitudade mestiça e mulata de quem vive na fronteira entre dois mundos, e tem sempre que fazer o papel de agente duplo contra si mesmo, a plasticidade transformada em modo de vida.
Meio italiano, meio americano do Colorado, pobre de dinheiro mas forte do talento que acredita ter, anjo caído num hotel classe c da hollywodiana California dos anos 30, Fante é um pícaro, ASK THE DUST , um texto picarescamente entre a prosa e a poesia, perigosamente Pênsil entre a vida e o signo.
Traduzindo ASK THE DUST, me defrontei com um híbrido de prosa e poesia, o que eu não esperava.
O fluxo verbal da prosa de Fante é afetado por aquele grau de imprevisibilidade, a que associamos o nome de poesia. Só com técnincas narrativas, aliás, não teria atingido o agudo de pungência, docemente lírico e amaragamente cínico, que caracteriza sua narrativa, entremeada de ex-abruptos dramáticos, mas contidos.
E tem muita landragem por trás de suas (aparentes) simplicidades.
Fante, por exemplo, sabe usar uma corriqueira expressão indiomática, fazendo a ressoar seus 365 sentidos: uma escrita de "" vanguarda", que não parece de vanguarda, à primeira vista.
No ataque do capítulo dois, "i was twenthy then" . Claro: " eu tinha vinte anos na época". Mas e se fosse: eu era vinte na época? O chão do texto de Fante está todo minado de coisinhas assim, discretas malícias, finuras quase invisíveis, ambuguidades em meio tom.
Me espantaram também certas modernidades de escritura, nesse "romance" de 1939: liberdades de diálogos e transcrição de cartas.
Isso, claro, à luz da caretice geral da liberdade americana média, que teria entre nós, seu paralelo mais proximo em Érico Veríssimo, o maios norte americano dos nossos ficcionistas, não em Jorge Amado, muito menos em Guimarães Rosa.
Muita coisa, no entanto, me deixou de ser mistério desde que tropecei com o nome e a cegueira de Joyce, no capítulo dois, e no cartoze, onde Bandini fantasia os críticos dizendo do seu livro: "nothing like it since Joyce", superlativa fantasia beirando a paranóia. Com Joyce, estrangeiros da língua inglesa, um irlandês, o outro italiano, Fante compartilhava um traço comum marcante: a educação em colégio jesuíta, o catolicismo estranhado, explodindo em manifestações blasfemas, negado, mas sempre afirmado, obsessivo, através da própria negação.

Ulysses é de 1922. E as subversões e as transgressões desse grande irlandês, desde então, penetram no solo da ficção anglo saxã, como tinta na areia ( Virginia Wolf e William Faulkner que o digam).

O fantasma de Joyce, recitando o monólogo de Molly Bloom no final de Ulysses, atravessa ASK THE DUST, atropelando vírgulas, acavalnado frases, liberando as lógicas. ASK THE DUST, descubro, vem de uma das melhores famílias da prosa inglesa, a louca linhagem irlandesa que começa com Swift e Sterne e desága no desvario absoluto de Finnegans Wake, de Stephan Dedalus, à procura de um pai, nas ruas de Dublin. Assim como Arturo Bandini ( protótipo de Chinaski, persona de Buk) perambula, à procura da glória e da felicidade, pelas ruas de Los Angeles.

Ask the dust é um monólogo interior, invenção do frances Édouard Dujardin, em seus Les Lauriers Sont Coupés ( 1887), levada até as suas últimas consequências por Joyce, no Ulysses, 35 anos depois.

Que tal traduzir logo " os loureiros Estão cortados" e começar essa história desde o principio, talvez começando com as Confissões de Agostinho?

paulo leminski.



No final do livro, há uma especie de "Apêndice":



Espeficicações Técnicas

A prosa da ficção brasileira, afluente da francesa, corta as frases ( vírgulas, conjunções, travessões, dois pontos) de modo diverso da prosa anglo saxã( e americana).
Em Fante, isso é particularmente acentuado, pelo próprio caráter meio poemático de ASK THE DUST.
Onde teriamos, em português, uma série de virgulas, Fante coloca um and em lugar de cada virgula: "she was beautiful and warm and blond an all that..."
Muito caprichosa, para nossos critérios, a pontuação de fante.
Ele usa dois pontos mais de uma vez no mesmo período, o que, em português, somente as vanguardas fariam.
Alem de uma exuberante profusão de vírgulas, e até desse estranho ponto e vírgula que nem os mais astuciosos retóricos nunca chegaram a definir bem pra que é que serve.
Na tradução, procurei preservar ao máximo esta peculiaridade de registro material do texto de Fante, convicto que o pensamento é uma coisa material e que as singularidades de uma grafia são um modo de pensar.
Não abrasilerei, " fantesei" a língua portuguesa
Num particular, não deu: a transcrição de diálogos. A ficção de língua inglesa coloca " aspas" cercando as falas, onde nós, franceses, usamos os dois pontos, linha nova, travessão e fala.
Nisso, franco abrasilerei.

Traduzi ASK THE DUST sem ter lido antes.
foi traduzindo que fui lendo, frase após frase.
A supresa de cada frase, de cada episódio, de cada parágrafo, de cada mudança da fortuna, essa surpresa produzindo a energia para passar a frase ao português.

ASK THE DUST, pergunte ao pó.
ocorre, porém, que o verbo "to ask", em ingles, pode significar " pedir" : pedir o jantar. Por exemplo, "peça o pó"?
por fim, ask, ainda, significa "convidar"; "convide o pó".
esse pó de palavras que fante espalhou por tantas páginas.


John "Arturo Bandini" Fante, obrigado por Camila Lopez, por Vera Rivken, por Hellfrick, por Hackmuth, pela senhora Hargraves, por uma noite nas praias da califórnia, pelo terremoto, por uma história chamada "o cachorrinho riu", por todas essas bobagens em que consiste isso que se chama viver, e que, sem você, hoje já teriam virado pó.


Paulo Leminski, curitiba, junho de 84.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Double John " Fantasy" - monólogo interior sobre John Fante.

" Não há Deus, que nos perdôoe, para nós não há futuro!"



Visceral. Não há palavra mais certa do que essa para sintetizar de maneira completa a prosa poética produzida por Fante. Sua escrita provém diretamente das profundezas do coração, suas obras são o reflexo máximo que temos de como a miséria e a brutalidade de um cotidiano opressor minimiza aqueles cujas vidas estao inseridas nessa realidade, transformando seus sonhos em distantes suspiros de esperança.

Fante viveu nessa miséria e sobreviveu a ela, de maneira que suas obras possuem alto teor autobiográfico, são o resumo de suas vivências e sonhos juvenis, que discorrem sobre como o ambiente devorado pela pobreza e falta de perspectivas esfacela os sonhos das pessoas que se sujeitavam a uma rotina fustigante de trabalho para poderem manter um longínquo sonho vivo. Nessa realidade, o ato de escrever era um momento de fuga, de dar voz as angústias e fúria interna que são acobertadas, engolidas diariamente.

Mas Fante não é nem de longe apenas um escritor meramente "social".

Sua prosa é ampla e plural *( ver abaixo) . Fante trata com magistralidade assuntos como a hipocrisia da sociedade mesquinha norte americana, inclusive retratando os ricos ignorantes que compõe a esfera social superior. É comum encontramos momentos de arrogância por parte de seu Alter -Ego, quando sufocado pela trabalho ou pelo desprezo do patrão, desata a falar sobre Niesztche, evidenciando a reflexão e o diálogo com uma das referências de Fante, sobre a validade da civilização ocidental, bem como a maneira que os seres humanos relacionam-se na sociedade. O desprezo e o desrespeito ao qual somos tratados diariamente por outros semelhantes é desesperador, e Bandini/ Molise sabe disso; sua vida é insignificante para outras pessoas, seus problemas não são humanos, são apenas um diagnóstico psciológico( como esquecer Dorothy em 1933 tratando Molise como Paciente, não como um amigo que nunca será?)

O egoísmo e a solidão são também temas frequêntes, bem como as emoções desencadeadas por isso. Aliás, se há uma coisa que mudou em minha vida após ter lido seus livros foi não ter medo das emoções, de expressar-me, mesmo que da maneira mais caótica e violenta possível. Fante trata sobre emoções sem medo. Em " Caminho de Los Angeles" temos uma cena lindíssima: Bandini estendido dentro do guarda roupas, sem amigos nem mulheres , rendido em sua falta de esperança, solidão, angústia, cansaço e raiva, chorando e rasgando os vestidos da irmã.

Fante também é multiétnico e multicultural: filho de imigrantes italianos, marginalizados da sociedade e em eterno conflito entre a cultura de seus pais e do país em que morava. Este é um dos pontos mais fortes de sua obra, inclusive aquela tratada com mais consideração por Paulo Leminski( multicultural também) e curiosamente esquecida por muitos. Talvez apenas pessoas que convivem com esse dilema conseguem entender a pluralidade e profundeza dessa questão.

A Misc in Scene Fantiniana também é riquíssima. Los Angeles é fielmente traduzida e representada, o tédio e solidão da vida urbana e como aquilo nos faz sentirmos ora bem ora mal possui momentos únicos, bem como os personagens bizarros, fragmentos de indivíduos e vidas espalhadas pelas empoeiradas e frias ruas. O legado do romance undeground, com bares e hotéis decadentes, a soturna e evanescente noite com os seres que ali encontram sua moradia, como prostitutas, bêbados e pessoas das mais direntes estirpes, as longas caminhadas pelo centro em busca da inspiração ou a simplesmente à procura do nada, tudo o que compõe a atmosfera do "submundo" beat que Fante também descreveu de maneira não menos que belíssima.

E, acima de tudo , Fante permanece atual, por mais que a questão economica e social na qual sua narrativa é inserida, relatando os bairros pobres de imigrantes italianos e mexicanos e a miséria subconsequente do esfalcelamento economico dos EUA pela crise de 1930, seja um bocado diferente. Afinal, juntamente com a brutalidade do cotidiano, ainda somos tratados como lixo e escória pela respeitosa sociedade vitoriosa, somos desprezados , nossos rostos e nomes são insignificantes, camuflando-se em meio da multidão de formigas operárias.


Terapia diária: nos momentos mais desperadores, lembro-me de da garota de casaco púrpura, das noites entediantes e cheias de Los Angeles, da fuga do interior frio do Colorado rumo ao sonho de ouro, falo com Kenny sobre a merda do tédio desta cidade. Revolta maior do que Fante, nunca li na minha vida. Por sorte encontrei um livro que desafoga as angústias que também sinto e que por causa disso nunca fui compreendido.

Desde aquele dia, em que comecei a leitura de " Caminho de los Angeles" Ganhei um irmão de declínio.

Arturo/ Molise/Fante é meu irmão de declínio.

Obrigado, Fante.

E me perdooe a falta de destreza para escrever em melhores palavras aquilo que você soube medir, sem mais nem menos a acrescentar.

*Inclusive isso é algo curioso em relação as discussões que tive com outros leitores assíduos: como Fante marca cada um pessoalmente em um determinado âmbito, mas sempre em alguma convergência: alguns preferem a parte social, outros a multiétnica, outros o retrato undeground de los angeles, outros a solidão dilacerante que é tema frequente em suas obras.... cada um de sua maneira absorve aquilo que mais lhe faz sentido, mas aceitando a grande variedade de temas que ele oferece. Sinto que certos autores acabam sendo marcados por determinada característica que mais sobressai em relação a outras. Talvez a isso se deve não tão somente a indiscutível qualidae de sua obra, mas também ao fato de que há poucas discussões sobre Fante em literatura portuguesa e até mesmo na vida acadêmica, por mais que seja um artista de vanguarda. Presenciei isso quando conversei com pessoas do instituto de linguagem da minha universidade: Fante é clássico e não se faz trabalhos acadêmicos sobre ele. Pudera, imagino que a grande dose de conceitualização e irrelevância dos medíocres acadêmicos iria tornar Fante uma pasta insignificante. De acordo com Paulo Leminski, porém, Fante também era um grande escritor no que diz respeito ao âmbito estilístico.

domingo, 21 de março de 2010

Glauco Villas Boas ( 1957- 2010)

Amanheceu triste, fatídico dia 12 de Março de dois mil e dez. Tomei ciência disso quando abri a página principal, anunciando, apocalipticamente, a morte de Glauco e seu filho.

Glauco, o cartunista? Tem certeza?

Sim, aquele mesmo. Geraldão, geraldinhos, geraldos, casal neura e aquelas personas-reflexos-de nós mesmos que enchiam as páginas de jornais e revistas.

Um vazio. Lacuna, ausência. Um segundo arrastou-se longo, esquisito. Seco, a garganta balbuciando involuntariamente. Estranhamento distante, aquilo era possível? Pesadelo Brasileiro!

E era possível...

-Glauco, o cartunista? Tem certeza?
-Sim, aquele mesmo- ouvi os comentários distantes numa sala de aula vazia, mas repleta de geraldos, que brotavam ali e acolá, mas,veja bem, puxa! somos nós mesmos.

Que descansem em paz.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Pink Floyd - The Wall (1979)
Aclamado por críticos e fãs como um dos melhores álbuns dos Pink Floyd ( juntamente com Dark Side of the Moon e Wish You Were Here ), é conhecido como sendo um clássico do rock, e as suas canções inspiraram muitos dos músicos rock contemporäneos.

- DISC I-

1-In The Flesh
2-The Thin Ice
3-Another Brick In The Wall (part I)
4-The Happiest Days Of Our Lives
5-Another Brick In The Wall (part II)
6-Mother
7-Goodbye Blue Sky
8-Empty Spaces
9-Young Lust
10-One Of My Turns
11-Don't Leave Me Now
12-Another Brick In The Wall (part III)
13-Googbye Cruel World

DOWNLOAD: http://www.zshare.net/download/71796479710885d4


-DISC II-

1-Hey You
2-Is There Anybody Out There
3-Nobody Home
4-Vera
5-Bring The Boys Back Home
6-Comfortably Numb
7-The Show Must Go On
8-In The Flash
9-Run Like Hell
10-Waiting For The Worms
11-Stop
12-The Trial
13-Outside The Wall

DOWNLOAD:
http://.zshare.net/download/7179735303406628/

Logo mais estarei postando o Filme ''The Wall'', aguardem...

Postado por Bruno Mazarin

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

The Allman Brothers Band - At Fillmore East (1971)

Existem muitas formas de se definir genialidade. Para mim, uma dessas formas dentro da música se limita às apresentações ao vivo. Creio que, se uma banda consegue exprimir tudo aquilo e mais um pouco no palco do que ela é capaz de produzir no estúdio, está em um nível superior às demais. Partindo desta premissa, o Allman Brothers Band está num patamar só dele, único, e isto deve-se em grande parte a At Fillmore East.

A banda é considerada um dos grandes expoentes do Southern Rock Americano. Surgiu no fim da década de 60, fundada pelos irmãos Gregg e Duane Allman e ficou famosa pelo incontestável entrosamento entre seus músicos, que faziam das apresentações ao vivo um festival para os sentidos, com duradouras sessões de improviso, guiadas pelas mãos do virtuoso Duane Allman, considerado um dos maiores guitarristas de Rock de todos os tempos.

"At Fillmore East" é a gravação da apresentação lendária que o grupo fez em 1971 em Fillmore East, Manhattan. No álbum, o que marca do começo ao fim são as longas sessões instrumentais, prolongadas por improvisações duradouras de Duane e dos dois bateristas, que conduzem com maestria o espetáculo. O álbum também é um marco como o último em que Duane participou por inteiro. Isto deve-se à morte prematura do jovem guitarrista ainda em 1971 em um acidente de moto. No período, a banda gravava o álbum "Eat A Peach", do qual Duane participou de parte, mas não chegou a finalizar o disco.

Apesar de contar com apenas 7 músicas, o disco tem mais de 70 minutos de duração. A música, como um todo, é ao mesmo tempo tão introspectiva quanto potente. Tal potência, porém, avança junto ao decorrer do show. Parece que tudo é arquitetado como um aquecimento preparatório para as duas últimas canções. O álbum mesmo é excelente do começo ao fim, mas os grandes destaques ficam para "In Memory Of Elizabeth Reed" e "Whipping Post".

1-Statesboro Blues (4:20)
2-Done Somebody Wrong (4:34)
3-Stormy Monday (8:50)
4-You Don't Love Me (19:15)
5-Hot'Lanta (5:22)
6-In Memory Of Elizabeth Reed (13:06)
7-Whipping Post (23:06)

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postado por Caio

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Milton Nascimento & Lô Borges - Clube Da Esquina (1972)

A década de 60 foi um período conturbado na História Mundial e não o deixou de ser para o Brasil. Em um mundo imerso em plena Guerra Fria, as ditaduras começavam a se instaurar firmemente na América do Sul, área sob a esfera de influência Norte-Americana. Neste contexto, instaurou-se o período que é conhecido como a Ditadura Militar no Brasil, que perdurou de 1964 a 1985.

Como forma de manipular a consciência popular e conter a "ameaça" socialista, os governos militares passaram a intervir nas formas de comunicação em massa, censurando tudo aquilo que não se adequasse aos padrões impostos por este novo regime. Nos anos de chumbo, com o decreto do AI-5, esta censura passou
a ser considerada uma repressão que fazia o Estado Novo fascista de outrora parecer mera piada.

Neste período, surgiram vários movimentos artísticos de grande significado para a estruturação da identidade cultural brasileira tal qual a conhecemos. Em um estranho paradoxo, a censura passou a exigir uma maior criatividade dos artistas, de modo a driblar estes veículos de repressão tanto artística quanto informacional. Em meio a isto, surgem movimentos como a Tropicália, a Jovem Guarda (esta por sua vez não tão engajada) e o Clube da Esquina. Tratemos deste último.


O Clube Da Esquina foi um movimento musical que nasceu na região das Minas Gerais. Entre suas propostas, estava principalmente a fusão do Regional com o Pop, ou seja, uma espécie de Antropofagismo, como provavelmente gostaria de colocar Oswald De Andrade. De certa manei
ra, pode-se dizer que isto seria alcançado pelo aproveitamento de elementos da música global daquela época, como o Jazz e o Rock'N Roll, este último representado na época por nomes como os Beatles e os Rolling Stones; e elementos nacionais, como a Bossa Nova.

O movimento se consolida a partir do lançamento do incrível disco homônimo, creditado a Milton Nascimento e a Lô Borges. O disco, até por sua extensão (são 21 composições), consegue representar muito bem o que o próprio movimento propunha: Consegue explorar a diversidade de influências da época, juntando sempre elementos brasileiros e regionais e navegando pela música erudita, pelo rock e pelo Jazz. Algumas canções até manifestam o engajamento político de então, como são exemplos "Cais" e "San Vicente".




1 -Tudo Que Você Podia Ser

2 - Cais

3 - O Trem Azul

4 - Saídas E Bandeiras N°1

5 - Nuvem Cigana

6 - Cravo & Canela

7 - Dos Cruces

8 - Um Girassol Da Cor Do Seu Cabelo
9 - San Vicente
10-Estrelas

11-Clube Da Esquina N°2

12-Paisagem Da Janela

13-Me Deixa Em Paz

14-Os Povos

15-Saídas E Bandeiras N°2

16-Um Gosto De Sol

17-Pelo Amor De Deus

18-Lilia

19-Trem De Doido

20-Nada Será Como Antes
21-Ao Que Vai Nascer


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postado por Caio Bucaretchi