segunda-feira, 15 de novembro de 2010

The Clash - London Calling



The Clash surgiu nos anos 70 na Inglaterra e era composto pelo já falecido Joe Strummer, vocais e guitarras; Mick Jones, guitarra e eventualmente outro instrumento, Paul Simonon, baixo e Topper Headon, bateria. Originalmente uma banda punk fortemente influenciada pela cena vigente na época, o The Clash com o tempo construiu uma carreira musical que se distanciou muito do estilo "punk puro", estilo no qual predomina três acordes tocados o mais rápido possível. O álbum London Calling foi terceiro álbum do grupo e foi o primeiro a abraçar diversas influências musicais, fazendo com que o rótulo até então usado fosse sempre questionado e repensado. O grupo flertou com os mais diversos estilos, dentre os quais o Ska/Reggae, rockabillty, hard rock e Jazz, alcançando uma complexidade musical bem diferente das bandas ditas punks da época.
Na verdade, que fez com que a alcunha punk fosse aplicada à banda, além do fato de que primordialmente a banda possuía um som menos sofisticado e mais "porrada", estilo este que se repetiu em várias canções durante a sua carreira, foi a atitude dos membros. Não me refiro àquela atitude "escrota" das bandas punks atuais, em que tocar pelado e zoar a MTV é grande feito, e nem ao apelo doutrinário que outras bandas atuais possuem, no qual a tênue linha do panfletário idiota e crítica é facilmente extrapolado. As canções possuíam um direcionamento político voltado para a esquerda e há diversas letras em que isso é subentendido ou até mesmo explicitado, mas não há um apelo vago de " vamos derrubar o sistema e implantar a revolução socialista armada". Há sim um foco em diversas situações, como a derrocada do poder tirano, o alerta ao fascismo europeu ( alerta atualmente vermelho, visto o intenso crescimento da extrema direita na europa), a crítica à paranóia, à sociedade de consumo, ao armamentismo, à aristocracia e velhos costumes ingleses, ao tédio do interior inglês, ao mercado musical, a discrimação aos imigrantes negros ( a convivência com os jamaicanos enriqueceram a música do the clash, com fortes influências do ska), ao trabalho alienativo e à falta de perspectiva desse. Enfim, uma banda que se mantém extremamente atual mesmo 33 anos após debutar e que se manteve coesa com seus princípios sem apelar à doutrinação barata (algo que refuto veemente), mas sim com letras realmente bem feitas e inteligentes, incitando ao questionamento e ao inconformismo e mostrando que os integrantes possuíam interesse e conhecimento à respeito das diversas facetas culturais do mundo, bem como os conflitos mundiais.
É notável também a capacidade de recriação de tipos e de estilos nas músicas, além de letras com conteúdo narrativos interessantes. O próprio visual da banda remete ao vintage dos anos 50. Quem ouviu "Jimmy Jazz" entede o que falo, caso contrário, convido-lhe a baixar o disco e tirar suas conclusões. Um belo disco.
London Calling remete à segunda guerra mundial e o chamado para os cidadões ao combate, em um clima apocalíptico nuclear, e possui um fundo musical marcante, embebido em punk.
Brand New Cadillac é rockabilly com uma letra engraçada, ambígua e irônica, mesmo que simples - a garota que consegui um cadillac novo já não reconhece ninguém a bordo de sua possante máquina ( qualquer semelhança com Serge Gainsbourg é mera coincidência). Jimmy Jazz é uma canção com levada jazz interessantíssima e uma letra narrativa bem feita com a construção do "tipo" malandro, o referido Jimmy Jazz, que a polícia procura mas que ninguém pode falar sob a condição de sofrer consequências. Rudie can't fail é ska puro, e como tal, fala sobre o movimento Rude Boy inglês dos anos 60 e o comportamento Rude, sem as preocupações adultas, com as conseqüentes vozes de crítica da sociedade. A antológica Spanish Bombs é muito bonita e discorre sobre a guerra espanhola com fidelidade aos fatos históricos, embora o refrão não faça muito sentido cantado em castellano. The Right Profile é uma canção sobre Montgomery Clift, o famoso ator. Lost in the Supermarket é uma bela balada sobre o vazio do consumismo. A memorável The Guns Of Brixton fala sobre o violento bairro jamaicano que o baixista morava ( ele que assume o vocal na música), Brixton, permeado por conflitos entre a opressora polícia e os trabalhadores estrangeiros, e daí toda a sua sonoridade rap/dub/ reggae legal, BEM LEGAL.
Death Or Glory e Lover's Rock é puro hard rock, enquanto The Card Cheat é sobre um homem que distrai a solidão afundando-se em jogos e bebidas, Wrong 'em Boyo tem pano de fundo Ska, enquanto Koka Kola é uma " brincadeira" com Coca Cola e cocaína. Train in Vain tem um apelo meio pop mas é bem legal, embora curiosamente não foi adicionada no encarte do disco. Revolution Rock parece The Police, com mistura de rock, Ska e Reggae.
Não há uma música desse disco que seja facilmente discartada, a grande amplitude de temas músicais e de letras, aliadas à criatividade do grupo para fazê-las tornou esse disco antológico, quebrando as barreiras do Punk.
Ah, e a capa é uma referência á Elvis Presley.



postado por: Ricardo.



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